Quantos de nós seguem as tendências da moda e renovam o guarda-roupa volta e meia? Isto acontece porque a fast fashion (“moda rápida”, em português) nos moldou desta forma. Criou-se uma cultura de produzir e comprar a cada nova estação, encurtando o ciclo de vida dos produtos, que são produzidos com menos qualidade e são descartados mais rapidamente. Isto é óptimo para quem vende e para quem compra, já que os produtos também chegam ao consumidor a um preço mais acessível, mas péssimo a nível ambiental e social.

 

O que é a fast fashion

Até ao século XVIII, o processo de confeção de roupas era moroso. As peças eram feitas artesanalmente e com recurso a matérias-primas de qualidade, para que tivessem uma maior duração. Ora, isto custava, e continua a custar, tempo e dinheiro.

No entanto, os processos começaram a ser facilitados com a invenção de máquinas, nomeadamente, as máquinas de costura, que possibilitaram a produção de mais roupa em menos tempo. Adicionalmente, surgiu a fast fashion como estratégia de mercado para escoar a produção.

Mas o que é a fast fashion, concretamente? Consiste em produzir a maior quantidade possível, o mais rápido possível e ao mais baixo custo possível, de forma a estimular o consumo e a potenciar lucros. Como é claro, a fórmula de fazer chegar rapidamente aos consumidores peças de roupa a um baixo custo e com um ciclo de vida reduzido tornou-se num fenómeno que acabou por se expandir por todo o mundo.

 

Como é que a fast fashion opera

As empresas da indústria têxtil que trabalham com o modelo fast fashion, analisam os hábitos de consumo ao nível das marcas mais conhecidas e, com base nessa análise, produzem, em grande escala, modelos semelhantes, porém, com uma qualidade inferior, o que torna o produto final muito mais barato.

Essas mesmas empresas, praticam a chamada moda global, que se traduz na circulação do mesmo tipo de produtos por todo o mundo, sem que haja características locais. As peças são distribuídas, de um modo fragmentado, entre diversos países, transmitindo uma sensação de exclusividade, o que não é, de todo, verdade.

 

Que impactos é que a fast fashion causa

Este modus operandi, por muito atrativo que possa ser para as marcas e para os consumidores, provoca um grande impacto na produção, nos hábitos de consumo e nos meios ambiental e social. Vamos analisá-los com mais pormenor:

  1. Impacto ao nível da produção: Seguindo o modelo fast fashion, o foco é fazer chegar aos clientes novas peças de roupa a cada nova estação e o ciclo do produto dura, no máximo, seis meses. Por isso, tem de se produzir mais, mais rapidamente e a um custo menor.
  1. Impacto ao nível do consumo: A fast fashion mudou por completo a mentalidade dos consumidores. Se antes as roupas eram tratadas como bens duráveis, hoje são vistas como algo descartável, porque, por serem de qualidade inferior e para que se acompanhem as tendências da moda, vão ser utilizadas por um curto período.
  1. Impacto ao nível do meio ambiente: Depois da expansão do modelo fast fashion, a indústria têxtil tornou-se numa das mais poluentes do mundo. Para produzir roupas, é necessário consumir água e outros recursos naturais, utilizar químicos, corantes e fertilizantes e é ainda necessário transportar. E como estamos a falar de produções em grande escala, são provocados grandes níveis de carbono e gases tóxicos.
    Adicionalmente, muitas roupas acabam em aterros, sem qualquer hipótese de reciclagem e como estas são feitas a partir de tecidos sintéticos e de pouca qualidade, passam o resto da sua existência a libertar químicos e outras matérias, como microplásticos, para o ar, para o solo e para a água (neste último caso, mesmo antes de se tornarem lixo, de todas as vezes que as lavamos).
  1. Impacto ao nível social: Claro que para reduzir custos no produto final, é necessário reduzir custos no resto da cadeia, nomeadamente, nos recursos humanos. O emprego de mão de obra precarizada ou escrava é um grave problema da fast fashion, em especial nos países da Ásia. Para além de baixos salários, existem várias empresas que fazem uso de contratações ilegais, turnos de trabalho excessivos e condições deploráveis. Muitas pessoas que trabalham neste meio, veem ainda a sua saúde posta em causa, por estarem expostas a produtos químicos e por serem levadas ao limite físico para que as roupas cheguem a tempo às lojas.

 

Que alternativas existem à fast fashion

A grande alternativa à fast fashion é, como o nome indica, a slow fashion, que se preocupa em produzir, em pequena e/ou média escala, peças que sejam de qualidade e duráveis. Este modelo privilegia o consumo local, uma vez que valoriza os produtores locais e promove a consciência ambiental, já que opta por fibras e materiais mais sustentáveis e promove a recolha, reparação e reciclagem de roupa, contribuindo para uma economia circular. Existe também uma forte política da prática de preços reais e justos.

São cada vez mais as marcas no mercado que se assumem como marcas de moda sustentáveis, que procuram parceiros capazes de assegurar métodos de produção responsáveis. Ainda que num universo mais reduzido, também existem marcas com fábrica própria, que, por isso, conseguem controlar todos os processos e conseguem ser mais transparentes, como são os casos da LAGOFRA e da DAILY DAY.

Fast_Fashion_LAGOFRA

Mas as alternativas também residem nas nossas atitudes enquanto consumidores. Aqui estão alguns hábitos que pode incutir, de forma a combater a fast fashion:

  1. Reduza o consumo de roupa: O consumismo, que está tão enraizado na nossa cultura, leva-nos a comprar coisas de que não precisamos e, às vezes, de que nem sequer gostamos tanto assim. Para evitarmos o consumo compulsivo, devemos fazer algumas perguntas a nós próprios no momento da compra, tais como: Preciso mesmo desta peça? Tenho alguma peça parecida com esta ou que sirva para o mesmo efeito? Se as respostas a estas questões forem “sim”, mais vale deixar esse artigo na loja. Se de cada vez que estivermos tentados a fazer uma compra, colocarmos estas questões, para além de estarmos a ajudar a combater os vários problemas já aqui mencionados, o nosso guarda-roupa também ficará muito mais organizado e fácil de utilizar (relembre aqui o nosso artigo sobre o guarda-roupa cápsula). E quando comprar alguma peça de roupa nova, opte por uma peça de maior qualidade, para que dure mais tempo.
  1. Cuide da sua roupa: Para que as suas roupas durem mais tempo, deve cuidar delas conforme as instruções de lavagem da etiqueta, deve usá-las até ao desgaste, consertá-las sempre que possível e reciclá-las de forma responsável no final da sua vida útil.
  1. Deixe de descartar com tanta facilidade: Se tiver alguma peça de roupa que esteja bastante desgastada, que ache que já está completamente ultrapassada ou com a qual já não se identifica, pode dar-lhe uma nova vida. No caso de roupa desgastada, tente consertá-la, caso contrário, transforme-a! Umas calças podem passar a ser uns calções, um casaco pode passar a ser um colete, uma tolha pode ser transformada em vários panos… dê azo à sua imaginação! Se nada disto resultar para si e decidir desfazer-se de alguma peça de roupa, doe, venda ou recicle. E, para evitar querer descartar precocemente as suas peças, opte por comprar artigos intemporais, para que nunca se farte deles.
  1. Alugue roupa: Quando temos algum evento importante e mais formal, como uma gala ou um casamento, muitas vezes acabamos por comprar algo mais caro do que o habitual e, muito provavelmente, só vamos utilizar essas roupas uma única vez. Para evitar este desperdício de dinheiro e impacto, podemos sempre optar por alugar roupas e acessórios em lojas especializadas.
  1. Compre roupa em segunda mão: Tal como pode vender roupas com as quais já não se identifica, também pode comprar de outras pessoas. Já existem várias lojas e aplicações que vendem este tipo de artigos, onde pode encontrar peças de roupa únicas e originais em perfeitas condições, a preços mais baixos.

 

O barato pode sair muito caro às gerações futuras

Tudo o que foi descrito neste artigo acontece porque as marcas querem entregar aos seus clientes a rapidez prometida, sem fazer grandes investimentos. Mas a fórmula só funciona porque nós a compramos. Por isso é que quando nós, consumidores, vamos comprar alguma peça de roupa, devemos ter algumas questões em mente, tais como: Quem fez estas roupas? Quais são os materiais utilizados? De onde vêm as matérias-primas usadas nestas roupas? Foi feito um uso consciente dos recursos? Existe preocupação com o sofrimento humano e animal? Onde foi feita a produção? Quantos quilómetros percorrem as roupas desde o início de vida até chegarem até mim?

A boa notícia é que, de facto, a consciência ambiental e responsabilidade social está a crescer não só entre as empresas, mas também entre os consumidores. Cabe a todos nós, enquanto indivíduos e organizações, adotarmos as medidas mais corretas de forma a defender e a praticar uma política de sustentabilidade. E lembre-se: a última palavra é sempre do consumidor, por isso, consuma de forma responsável, sem que nunca se esqueça que o que hoje pode custar pouco dinheiro pode ter um preço muito elevado para as gerações futuras.

E, não menos importante: não se deixe iludir e faça sempre uso do seu pensamento crítico, porque a sustentabilidade também tem muito que se lhe diga. Porquê? Porque, às vezes, talvez mais vale comprar um produto feito a partir de um material teoricamente menos sustentável, mas que vai durar muito mais tempo do que outro que foi produzido de maneira, supostamente, mais ecológica. Ponha sempre as coisas na balança e aja segundo a sua consciência.